quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Negligência Histórica




   Pouco se sabe, infelizmente, sobre a história do escravo africano e suas relações no período do Brasil Colônia. A historiografia brasileira, a partir de uma visão eurocêntrica, forneceu, ao longo de todos esses anos, informações superficiais e de pouca relevância no trato desse assunto tão importante. Afinal de contas, a história econômico-social da sociedade brasileira – toda a sua formação – nada mais é do que a história do tráfico de escravos.
    Como já devem ter percebido, os livros didáticos de história, pelo menos até agora, procuram somente expor os números do tráfico de cativos africanos, que não foram poucos, porém esquecendo de expor as relações complexas existentes nesse sistema que reinou durante quatro séculos no Brasil e encerrou-se com a sua extinção há pouco mais de um século – por incrível que pareça –, sendo o Brasil um dos últimos países a abolir o regime escravagista. O ensino de história não se preocupou em mostrar de que maneira esses escravos surgiram e, tão pouco, fazem questão de mostrar as suas origens étnicas, dando a entender que são todos farinha do mesmo saco, e que num passe de mágica, foram parar em um navios negreiros, rumo à costa brasílica, para serem negociados aos seus senhores de engenho.


    Partindo dessa premissa, jamais saberíamos que a África, dividida em várias nações, se engalfinhava em conflitos étnicos entre suas tribos naquele período. Vários líderes tribais, e seus exércitos de guerreiros, lutavam entre si pela conquista de territórios e conseqüente escravização dos derrotados. Com a chegada dos estrangeiros na costa ocidental africana – aqui falo dos portugueses – diversos chefes tribais se aliaram a esses navegadores, estabelecendo uma espécie de contrato de fornecimento de escravos, em troca, muitas vezes, de apoio bélico nessas batalhas e ou mercadorias. Existem relatos, por exemplo, segundo textos de alguns autores de história, que sugerem a presença de chefes tribais africanos que eram aliados dos portugueses e que receberam abrigo no Brasil por terem sido derrotados em seus domínios na África. Esses aristocratas eram, muitas vezes, incorporados às forças armadas colonial ou recebiam porções de terra para dela retirarem seu sustento e possível lucro do excedente produzido.
    Há também aqueles que faziam a travessia do atlântico, não como escravos, mas como negociantes de escravos – por conta própria ou como intermediário de um senhor, seu dono, que após anos de serviços prestados, conquistou a sua confiança. Muitos dos que realizavam esse ofício por conta própria, locupletaram em conseqüência do tráfico de cativos africanos para a colônia ultramarina portuguesa, cousa jamais imaginada por qualquer um que tivesse estudado história na escola, tanto no fundamental como no ensino médio.           
    É fato, eu sei, que ainda há muito que ser dito a respeito, na realidade, existem milhares de outras relações que eu poderia explanar aqui. Contudo, isso é só uma idéia do que a historiografia brasileira nos deixou passar. Espero que com a implementação da lei 10.639, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos educacionais – público e privado – no Brasil, seja possível superar, ou ao menos minimizar, os danos causados por essa negligência histórica, ajudando-nos a esclarecer as vicissitudes desse processo tão substancial e que foi de suma importância para a formação do Brasil como nós o conhecemos hoje: social e economicamente falando.

Um comentário:

  1. Realmente você esta de Parabéns, muito muito interessante todos os textos e assuntos, estou acompanhando a partir de agora o seu Blog e também compartilhando.

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