segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sobre as UPPs

                                                      Foto do jornal O Fluminense Fotógrafa: Lívia Villas Boas


    Até que ponto isso é bom ou ruim? Diante desta imagem, percebemos a importância de se estabelecer uma discussão sobre esse tema recente, e já tão polêmico, que são as UPPs – Unidade de Polícia Pacificadora. A militarização das favelas se transforma em política de segurança pública, sendo imposta pelo governo como uma solução para a violência – problema antigo na rotina dos cariocas. A questão é: solução ou um paliativo perigoso?

    A ocupação dos morros cariocas inicia-se sob a égide do governo do estado, capitaneado por Sérgio Cabral, e tendo como fiel escudeiro o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Paes e Cabral estão engajados no discurso de que a presença da polícia nessas comunidades ajudaria a trazer a ordem e a paz para esses moradores diretamente atingidos pela violência.

    Contudo, às vezes, me pergunto se essa medida não é mais um tapa-buracos sem vergonha – para inglês ver –, nos mesmos moldes dos tapumes colocados às margens da Avenida Brasil para excluir as favelas do cenário carioca, escondendo-as aos olhos dos turistas, numa tentativa de encobrir nossas mazelas. Logo elas que, assim como tantos outros cartões-postais de nossa cidade, fazem parte da imagem e cultura do Rio. É a partir dessas indagações que a gente começa a imaginar se as UPPs foram realmente pensadas para as comunidades ocupadas. Acho que não, né? Basta, por exemplo, dar uma olhada no mapa das unidades, espalhadas pela cidade, que criam um cinturão de segurança – estrategicamente colocado – para suprir as necessidades dos deslocamentos das comitivas de chefes de estado, atletas e turistas nos jogos da copa de 14 e, posteriormente, nas olimpíadas de 16.

    Entretanto, é claro, sabemos que as favelas precisam de ações policiais para conter aqueles que já foram subvertidos pelo tráfico e que precisam pagar pelos seus crimes. Mas essas ações não podem ser encaradas como política de segurança pública para solucionar, definitivamente, a questão da violência. O problema das favelas não será resolvido com a militarização das mesmas. Trazer a paz com a guerra é um paradoxo que não se sustenta. Quem tem que se fazer presente nas favelas é o poder do estado e não o poder da polícia, que é uma instituição hierárquica baseada na força e que pode distorcer a maneira de como se relacionar com os moradores de favela. Porque por mais que se ofereça um treinamento específico para lidar com situações rotineiras de uma comunidade, a polícia nunca terá o diálogo e nem a postura correta para resolver certas questões que são de domínio dos moradores desta ou daquela determinada comunidade. O próprio uso do uniforme militar cria uma sensação ditatorial e de vigilância constrangedoras. Isso se mostra, principalmente, quando policiais dessas instalações proíbem o funk dentro das comunidades ocupadas e estipulam uma espécie de toque de recolher. Sem contar os abusos e excessos cometidos – o que já era de se esperar da polícia que todos conhecemos – nessas locações, algo denunciado por alguns veículos de comunicação.


    Algo muito preocupante, também, é a forma como estão sendo feitas essas incursões para a sua posterior ocupação. O comando da polícia anuncia onde e quando serão feitas essas incursões, justamente para fazer com que os traficantes, sabendo disso, fujam para outros lugares, evitando, assim, um possível confronto. Até aí, digamos que está tudo bem. O problema é que esses criminosos – e suas armas – não evaporam, não desaparecem como aquele parente distante que te deve uma grana. Eles estão por aí. Estão ocupando outras favelas mais periféricas e, perigosamente, se reorganizando. É essa reorganização que nos preocupa. O que será que vai acontecer quando essa bomba explodir? Quem será que vai pagar essa conta de uma política pragmática, insustentável,  excludente, burguesa e irresponsável de uns e outros? Acho que eu não preciso nem dizer. Isso porque é estruturalmente impossível você ocupar todas as favelas do Estado do Rio de Janeiro. E, ainda que fosse possível, não é essa a questão. A questão é a presença do estado nas favelas na forma da educação, da saúde, da cultura, do saneamento básico, da moradia decente e digna, do respeito. Tendo todos esses ingredientes básicos dos direitos do homem, a força policial não se faz necessária. Isso sim é política de segurança pública. Um policial fardado e com um fuzil na mão, dando dinheiro para uma criança, isso não é política de segurança pública, isso é uma versão institucionalizada do medo. Afinal de contas, essas crianças que outrora cresceram assistindo traficantes com armas em punho, agora irão crescer vendo policiais. 


    E aí? Solução ou um paliativo perigoso?

Um comentário:

  1. Acredito que as UPPs sejam parte de uma solução,
    sendo que,a continuação desta não está sendo feito,escolas,creches,hospitais,moradias e muitas outras coisas devem vir juntas,coisa que não acontece...e se pensarmos mais longe...muitas das favelas ocupadas os bandidos e os usuários de drogas que lá hoje estão...irão para onde?
    resposta é clara.
    RUA.
    Então é bem fácil imaginar nossas ruas com muitos assaltos e venda de drogas nas portas de nossas casas.
    UPPs são boas sim, mais até o momento só está mudando de moradia os bandidos
    Favela>Favela
    para no futuro ser
    Favela>rua

    Ótimo post Noronha.

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