O que dizer da Grécia? A Grécia
Antiga teve o seu auge no período clássico – V século a.C: poder econômico,
político, guerras. Viu em seu conjunto de ilhas (cidades-Estado) tentativas de
invasões do Império Persa. Em seu arquipélago, a Guerra do Peloponeso – entre
Atenas e Esparta – culminou com a vitória dos espartanos, financiados pelos
persas.
A Hélade serviu de inspiração para diversas
sociedades de sua época. Foi o baluarte dos renascentistas, no período moderno,
irradiando suas bases até a contemporaneidade. Roma incorporou não só seus
deuses como também sua forma de governo. Macedônios foram um dos principais
difusores da cultura grega, apesar de serem considerados bárbaros pelos
helenos. A Grécia irresistível até para os seus maiores inimigos.
Dona de cenários esplêndidos, é
destino certo para muito turistas a fim de conhecer seus fantásticos
monumentos, ruínas e praias.
Ao longo de toda a sua
existência, a Grécia das cidades-Estado ou a Grécia da República Helênica,
presenciou momentos de ascensão e declínio. Expandiu seus territórios, sua zona
comercial, suas relações sociais. Sofreu ataques. Foi dominada pelos romanos.
Renasceu na beleza de sua cultura, na admiração de seus oponentes, na absorção
e difusão de seus estudos, no desejo ávido de sabermos mais sobre sua história.
História da História? Alguns acreditam que lá nasceu a História como ciência. A
História como uma percepção do tempo em registros de atos prodigiosos, como os
escritos de Heródoto de Halicarnasso. No período moderno, os renascentistas
buscaram, nas suas bases, o retorno de uma época clássica, hegemônica, de
rara sofisticação cultural. Revolucionaram a arte, resgatando a natureza, o
homem como figura central, dono de si.
No “nosso” tempo, a Grécia
enfrenta a voracidade do capitalismo, mais do que maturado, em nossas bases
mais fundamentais. Endividada em mais de 160% do PIB, os gregos se veem em um
beco sem saída para honrar com seus credores. Ainda com os bancos “perdoando”
cerca de 50% da dívida, as dificuldades encontradas para o acerto desta parece
impossível. Mesmo com toda a arrecadação em impostos e as medidas de
austeridade já adotadas pelo parlamento grego, a Grécia não consegue obter
superávit, gastando mais do que obtém em receita.
Há economistas que projetam um
futuro de trevas: os gregos não teriam a menor possibilidade de quitar essa
dívida, uma vez que até 2020, na melhor das hipóteses, a redução cairia apenas
para 120% do PIB. Este fato nos revela a conjuntura desastrosa das contas
gregas. A Grécia pode estar fadada ao fracasso, tendo em vista que as medidas
de austeridade atingem diretamente a economia popular, reduzindo drasticamente
o poder de compra do povo grego, algo fundamental para fazer girar uma economia
capitalista, o consumo. Uma população cada vez menos abastada também significa
uma arrecadação menor em impostos, algo impensável para um país que precisa de
receita para cumprir com seus compromissos a curto e longo prazo.
Se a Grécia não conseguir arcar
com suas dívidas – dando um calote – a mesma ficará sem confiança no mercado,
estando, assim, impossibilitada de captar novos recursos para fazer rolar a sua
dívida. A falência é o próximo passo rumo ao abismo das bancarrotas de bancos e
instituições públicas e privadas.
A farra com a coisa pública se
mostra como uma característica sine qua
non nos alicerces da crise grega. No entanto, há algo mais a se pensar.
Digo isso porque vivemos imersos
em uma lógica capitalista de mercado que nos açoita diariamente. O poder do
capital isola, individualiza, corrompe, leva a loucura, destrói. Recentemente,
um idoso se matou em frente ao parlamento grego, pois não conseguia honrar com
seus compromissos financeiros pessoais. O índice de suicídios recrudesceu
assustadoramente nos três últimos anos. O capitalismo tem o poder de manipular,
de fazer brotar o pior de cada um. Este sistema econômico, inaugurado, ou se
confundindo, pós- mercantilismo mostra a sua face tenebrosa tanto para pessoas
comuns, como para instituições e Estados.
Por conseguinte, a situação da
Grécia nada mais é do que o espelho ampliado da situação de milhares de
cidadãos – ao redor do globo – que se veem endividados e explorados por grandes
bancos que locupletam às custas do povo, da massa trabalhadora. Juros altíssimos
são cobrados descaradamente, se mostrando como uma forma cruel no que eu chamo
de escravização econômica.
A Grécia, nosso foco em questão,
tem como uma de suas cláusulas – impostas como condição para a liberação de um
pacote de 130 bilhões – a flexibilização das leis trabalhistas e privatização
de ativos estatais, medidas claramente neoliberais que só fazem diminuir o estado
de bem estar social, que vem desaparecendo ou se transformando.
Pra variar, por assim dizer, a
corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Essas medidas só atraem o capital
especulativo, as grandes empresas, os grandes bancos que enxergam, com a
clareza de uma águia, a certeza de abocanhar ainda mais dinheiro explorando os
menos favorecidos. Flexibilizar as leis trabalhistas significa tirar direitos
do trabalhador, tornando-o assim uma mão de obra mais barata e,
consequentemente, desonerando os custos para sua contratação ou demissão. Privatizar,
a maneira como se pretende na Grécia, significa vender o patrimônio do país ao
capital estrangeiro, que fatalmente irá explorar, sugar o máximo, dessa classe
trabalhadora agora abandonada.
Portanto, manifestações populares
tomam conta das ruas, praças e avenidas gregas. O enfrentamento mostra-se
necessário, ainda que a repressão seja covarde e violenta, por parte das forças
governamentais. O povo grego sabe da emergência da situação e age. O exemplo da Grécia pode ser o nosso. E não é
o “nosso” retórico, é o “nosso” mesmo. Chega de explorar as massas. Precisamos
nos unir e agir ou... pereceremos. Toda força ao Povo!
A sua ausência está mais que compreendida, tenho certeza que assim que vc puder postará coisas interessantes como sempre aqui no blog.
ResponderExcluirBoa sorte na faculdade e parabéns pelos artigos e trabalho de conhecimento que vc promove aos leitores do blog.
Forte abraço !!
Seu grande amigo Leonardo Batista
Amor, a cada dia me surpreendo mais com a sua dedicação e talento. Todo o blog está excelente, é disso que precisamos, tanto besteirol na internet, tv e etc, e tão pouco conteúdo que inspire, motive, questione. É por esse e tantos outros motivos, que és um exemplo para todos nós, portanto nunca - eu disse NUNCA! - pare de escrever, de expor a sua opinião, de postar aqui, pois tenho certeza que assim como eu, o mundo agradece. Quanto ao último post sobre a Grécia, está fabuloso, em vários aspectos, desde a clareza do texto, rico em informações interessantes, presença de figuras muito bem encaixadas, até em seu formato, sobretudo o último pensamento, que evoca ideais já tão esquecidos, porém de suma importância. Assim, que a nossa "prosa" não se limite a taberna, mais ganhe as ruas, os DCAs, os pensamentos e as ações diárias.
ResponderExcluirJá aguardo ansiosa por mais assuntos, que tanto conversamos em off, como o mundo árabe e quem sabe até Marx e Freud...
Te amo muito, sua esposa, Lúcia.