domingo, 15 de abril de 2012

Grécia


O que dizer da Grécia? A Grécia Antiga teve o seu auge no período clássico – V século a.C: poder econômico, político, guerras. Viu em seu conjunto de ilhas (cidades-Estado) tentativas de invasões do Império Persa. Em seu arquipélago, a Guerra do Peloponeso – entre Atenas e Esparta – culminou com a vitória dos espartanos, financiados pelos persas.



A Hélade serviu de inspiração para diversas sociedades de sua época. Foi o baluarte dos renascentistas, no período moderno, irradiando suas bases até a contemporaneidade. Roma incorporou não só seus deuses como também sua forma de governo. Macedônios foram um dos principais difusores da cultura grega, apesar de serem considerados bárbaros pelos helenos. A Grécia irresistível até para os seus maiores inimigos.

Dona de cenários esplêndidos, é destino certo para muito turistas a fim de conhecer seus fantásticos monumentos, ruínas e praias.




Ao longo de toda a sua existência, a Grécia das cidades-Estado ou a Grécia da República Helênica, presenciou momentos de ascensão e declínio. Expandiu seus territórios, sua zona comercial, suas relações sociais. Sofreu ataques. Foi dominada pelos romanos. Renasceu na beleza de sua cultura, na admiração de seus oponentes, na absorção e difusão de seus estudos, no desejo ávido de sabermos mais sobre sua história. História da História? Alguns acreditam que lá nasceu a História como ciência. A História como uma percepção do tempo em registros de atos prodigiosos, como os escritos de Heródoto de Halicarnasso. No período moderno, os renascentistas buscaram, nas suas bases, o retorno de uma época clássica, hegemônica, de rara sofisticação cultural. Revolucionaram a arte, resgatando a natureza, o homem como figura central, dono de si.



No “nosso” tempo, a Grécia enfrenta a voracidade do capitalismo, mais do que maturado, em nossas bases mais fundamentais. Endividada em mais de 160% do PIB, os gregos se veem em um beco sem saída para honrar com seus credores. Ainda com os bancos “perdoando” cerca de 50% da dívida, as dificuldades encontradas para o acerto desta parece impossível. Mesmo com toda a arrecadação em impostos e as medidas de austeridade já adotadas pelo parlamento grego, a Grécia não consegue obter superávit, gastando mais do que obtém em receita.



Há economistas que projetam um futuro de trevas: os gregos não teriam a menor possibilidade de quitar essa dívida, uma vez que até 2020, na melhor das hipóteses, a redução cairia apenas para 120% do PIB. Este fato nos revela a conjuntura desastrosa das contas gregas. A Grécia pode estar fadada ao fracasso, tendo em vista que as medidas de austeridade atingem diretamente a economia popular, reduzindo drasticamente o poder de compra do povo grego, algo fundamental para fazer girar uma economia capitalista, o consumo. Uma população cada vez menos abastada também significa uma arrecadação menor em impostos, algo impensável para um país que precisa de receita para cumprir com seus compromissos a curto e longo prazo.



Se a Grécia não conseguir arcar com suas dívidas – dando um calote – a mesma ficará sem confiança no mercado, estando, assim, impossibilitada de captar novos recursos para fazer rolar a sua dívida. A falência é o próximo passo rumo ao abismo das bancarrotas de bancos e instituições públicas e privadas.



A farra com a coisa pública se mostra como uma característica sine qua non nos alicerces da crise grega. No entanto, há algo mais a se pensar.

Digo isso porque vivemos imersos em uma lógica capitalista de mercado que nos açoita diariamente. O poder do capital isola, individualiza, corrompe, leva a loucura, destrói. Recentemente, um idoso se matou em frente ao parlamento grego, pois não conseguia honrar com seus compromissos financeiros pessoais. O índice de suicídios recrudesceu assustadoramente nos três últimos anos. O capitalismo tem o poder de manipular, de fazer brotar o pior de cada um. Este sistema econômico, inaugurado, ou se confundindo, pós- mercantilismo mostra a sua face tenebrosa tanto para pessoas comuns, como para instituições e Estados.




Por conseguinte, a situação da Grécia nada mais é do que o espelho ampliado da situação de milhares de cidadãos – ao redor do globo – que se veem endividados e explorados por grandes bancos que locupletam às custas do povo, da massa trabalhadora. Juros altíssimos são cobrados descaradamente, se mostrando como uma forma cruel no que eu chamo de escravização econômica.



A Grécia, nosso foco em questão, tem como uma de suas cláusulas – impostas como condição para a liberação de um pacote de 130 bilhões – a flexibilização das leis trabalhistas e privatização de ativos estatais, medidas claramente neoliberais que só fazem diminuir o estado de bem estar social, que vem desaparecendo ou se transformando.   

Pra variar, por assim dizer, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Essas medidas só atraem o capital especulativo, as grandes empresas, os grandes bancos que enxergam, com a clareza de uma águia, a certeza de abocanhar ainda mais dinheiro explorando os menos favorecidos. Flexibilizar as leis trabalhistas significa tirar direitos do trabalhador, tornando-o assim uma mão de obra mais barata e, consequentemente, desonerando os custos para sua contratação ou demissão. Privatizar, a maneira como se pretende na Grécia, significa vender o patrimônio do país ao capital estrangeiro, que fatalmente irá explorar, sugar o máximo, dessa classe trabalhadora agora abandonada.




Portanto, manifestações populares tomam conta das ruas, praças e avenidas gregas. O enfrentamento mostra-se necessário, ainda que a repressão seja covarde e violenta, por parte das forças governamentais. O povo grego sabe da emergência da situação e age.  O exemplo da Grécia pode ser o nosso. E não é o “nosso” retórico, é o “nosso” mesmo. Chega de explorar as massas. Precisamos nos unir e agir ou... pereceremos. Toda força ao Povo! 





2 comentários:

  1. A sua ausência está mais que compreendida, tenho certeza que assim que vc puder postará coisas interessantes como sempre aqui no blog.
    Boa sorte na faculdade e parabéns pelos artigos e trabalho de conhecimento que vc promove aos leitores do blog.
    Forte abraço !!
    Seu grande amigo Leonardo Batista

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  2. Amor, a cada dia me surpreendo mais com a sua dedicação e talento. Todo o blog está excelente, é disso que precisamos, tanto besteirol na internet, tv e etc, e tão pouco conteúdo que inspire, motive, questione. É por esse e tantos outros motivos, que és um exemplo para todos nós, portanto nunca - eu disse NUNCA! - pare de escrever, de expor a sua opinião, de postar aqui, pois tenho certeza que assim como eu, o mundo agradece. Quanto ao último post sobre a Grécia, está fabuloso, em vários aspectos, desde a clareza do texto, rico em informações interessantes, presença de figuras muito bem encaixadas, até em seu formato, sobretudo o último pensamento, que evoca ideais já tão esquecidos, porém de suma importância. Assim, que a nossa "prosa" não se limite a taberna, mais ganhe as ruas, os DCAs, os pensamentos e as ações diárias.
    Já aguardo ansiosa por mais assuntos, que tanto conversamos em off, como o mundo árabe e quem sabe até Marx e Freud...
    Te amo muito, sua esposa, Lúcia.

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