A princípio podemos dizer que
sim. A pauta é: corrupção. O povo se indigna, vai às ruas e pede o fim da corrupção.
Muitos foram pedir, inclusive, o fim da corrupção vestindo a camisa da CBF.
Bom, não entendi muito bem, mas, enfim... Pede-se impeachment da atual
presidente e de seus partidários. Justo? Pode ser. As pessoas tem o direito de
lutar por aquilo que acham certo, correto. A grande questão é que a paixão
provocada pela revolta está nos deixando um tanto quanto irracional. Tudo bem,
acontece. Mas temos que parar e racionalizar.
A corrupção no Brasil é uma
instituição que, diga-se de passagem, não começou no governo do PT. Veja bem,
não estou aqui pra defender a gestão petista e nem pra dizer que este partido
não tem participação efetiva nos escândalos de corrupção. Muito ao contrário
disso. Acredito que o governo do PT tenha colocado o Brasil numa profunda crise
nacional e também no cenário internacional, nos fazendo dar passos atrás em
nossas conquistas, mesmo tendo sido o partido que distribuiu renda – ainda que
uma das formas tenha sido através da expansão do crédito, o que acho errado e
um modelo esgotado que não se sustenta. O país está em recessão desde o segundo
semestre de 2014 e cresce muito abaixo daquilo que, de fato, poderia crescer. Mas
não vamos discutir isso aqui, talvez num outro artigo.
As alianças a qualquer custo
construídas pelo PT (e já há muito praticadas também por outros partidos), alimentadas pela sua sede pelo poder eterno, agudizaram e
deixaram de relevo características de um coronelismo histórico que nos remete
aos tempos da colônia e que ainda persistem em permanecer em nossa estrutura
política, econômica e social. Além, é claro, de ter provocado seu isolamento
político e, consequentemente, a falta de diálogo com a sociedade civil e demais
partidos políticos de oposição e sindicatos.
Pois bem, esses são alguns pontos interessantes pra começarmos nossa racionalização e tentativa de acharmos uma solução para um problema que não é de X ou Y, mas de todos nós. Muitos dizem: - votei em X, por isso não é culpa minha. Besteira! O problema é de todos nós, sim.
A revolta da população se justifica. O problema é como se está canalizando essa revolta e a maneira que se pretende resolver o problema. Impeachment? Fora Dilma? Intervenção militar? (bizarro ainda pedirem isso) Acho que não. Como já pincelado anteriormente, o problema do Brasil está em suas estruturas. O fenômeno da personificação da política, que encontra suas bases no nosso passado colonial e velho-republicano faz com que direcionemos nossa revolta e insatisfação para personagens em voga e não para as instituições. E isto acontece porque possuímos uma estrutura mental que opera exatamente nessa lógica. Isso não resolve o problema. Isso só nos faz trocar seis por meia dúzia. Tira X e põe Y, mas a estrutura permanece lá: intacta, inalterada.
O Brasil vive uma crise
generalizada: nos transportes, na educação, na saúde, na economia, enfim,
passamos por um momento de profunda preocupação e incerteza política. Esses são
os ingredientes perfeitos para ânimos exaltados e decisões baseadas no calor do
momento, sem de fato levarmos em consideração o que realmente nos constitui.
Por isso, devido a nossa história, devemos racionalizar e entender que o
problema do Brasil não é de fulano ou cicrano, mas, sim, de nossas estruturas.
Se quisermos assim mudar, teremos que pensar numa mudança de longo prazo
baseada em atitudes que começam a partir do nosso próprio comportamento,
inclusive. Procurar eleger políticos sérios e que estejam compromissados com
propostas sérias de campanha é fundamental, ao invés daqueles que estão aliados
com megaempresários a fim de conseguir regalias e financiamentos de campanha,
em detrimento dos interesses da população. Pensar em coletividade será o maior
de nossos desafios.